Sunday, July 03, 2011

Sina da Vida

Quando alguém morre, a população entra em vigília, pelo respeito aos mortos e pela amizade aos vivos, companheiros de anos de pedestrar nesta vida do lado de cá.
O abandono pelos seus, pelas duas gerações que os sucederam e que também eles se foram embora, uma a reboque da outra.
A perda de um deles, não se confina aos que lhes são chegados por família.
É perda colectiva, é mais um vazio nas suas vidas já tão esvaziadas de objectivos e alegrias.
Anciãos, trôpegos, quase todos, pelos forçados descuidos do trabalho sem tréguas, parecem ainda mais velhos do que são.
Lá se vão arrastando pelas ruas do povoado, num ruído surdo de bengalas gastas, em triste convergência para a pequena igreja onde os leva a obrigação e o respeito.
É lá que começa a despedida ao finado, cumprindo-se o respeitável ritual do desfilar de memórias e de sentimentos, ao longo de toda a noite, em alternância com grandes e eloquentes silêncios, até que o dia chegue.
É lá que prossegue o ciclo imparável do despovoamento.
As flores acumulam-se, compradas com o pouco de quem nada tem.

O meu dia virá.
Espero não ter medo.
Espero que quando venha, possa dizer:
A minha vida foi boa.
Pode a morte vir!