Sunday, January 21, 2007

A MATA DO KOSSONGO

Perde-se no tempo a idade daquela mata onde a luz do dia
mal penetra.Aqueles lenhos retorcidos, embaraçados,
cruzados como mãos nodosas entrelaçadas, estão ali
misteriosamente. Não envelhecem porque são eternos.
Porque são os braços e as pernas e a alma de todas aquelas
árvores que se acotovelam e confundem com uma multidão
de fantasmas inquietos.Ninguém as plantou.
Nasceram muito antes de Eva partir a primeira humana
criatura.Sob os relâmpagos das tempestades desfeitas,
apenas gemem mas, se quebram, dos pedaços arrancados
outras árvores crescerão, rebentarão outros arbustos,
acrescentar-se-á á cidade vegetal um novo e monumental edifício.
Não. Ninguém plantou a floresta.
Nem ela guarda já a dedada da Natureza, aquando a criação do
Universo.Enreda-se por léguas e léguas que jamais alcançarão
um fim.Pode haver um Inverno de uma planície, de um rio, de
uma montanha, de um deserto até, mas do outro lado da planície,
do rio, da montanha e do deserto, o seu poder renascerá,
nem maior, nem menor, mas igual ao seu apogeu.
Assim se conserva, através dos anos, o mato tenebroso, fechado.
Assim ele suspende, em cada século que passa, os mesmos caules
musculosos, inflexíveis.Assim nas suas veias corre a mesma seiva
impetuosa e ardente.Assim no seu seio se acolhem os bichos da
terra e do céu e pólen perfumado das flores bravias vem poisar e
conceber.Os negros, que mais tarde, chegaram e olharam pela
primeira vez o sol, milhões de anos depois desse sol dourar folhas
e ramos e se entornar pelo capim dos tandos, pelas aguas cristalinas
dos lagos apodrecidas dos pântanos, até esses respeitam o mato, que
os atemoriza e espanta com a sua força. Que é lá que habitam os seus
deuses, que os milagres mais perturbantes e inacreditáveis se dão e
se repetem, que a voz dos feiticeiros considerados e temidos se
levanta, como se levanta o rugir das feras.
Que é lá que se oculta e palpita o coração do Mundo –
bem o sentem bater, enchendo o silêncio da noite de um rumor
indefinido e estranho.E apesar de por vezes, os homens abrirem
estreitas veredas por entre a folhagem espessa, eles não ignoram
que não ofendem a floresta, que atrás deles a ferida cicatrizará,
como um leve arranhão á superfície da pele.
Não ignoram que ninguém conquistará o, mato, e por isso,
o veneram e receiam quando arriscam os seus passos no
emaranhado dos seus troncos milenários. Mas, se o fazem,
é porque também sabem que aquele ser omnipotente, senhor
da vida e da morte, é maternal e meigo para os que nele
procuram refugio ou paz ou simplesmente

caminho.

1 comment:

Laura said...

Olá de novo.. Vivi em Angola e vivi na mata e é lindo de se ver de sentir..Só quem por lá passou é que pode dizer o que é.....Beijinhos..